É natural que criemos expectativas em relação à maternidade. Não é culpa só da sociedade que cobra e julga sem perdão o desempenho das mulheres nesse papel. Fantasiar é uma das maiores delícias da imaginação.
Vai aí minha história. Na minha fantasia eu seria aquela mãe que cantarola enquanto segura o bebê numa mão e vira a panqueca sem glúten no ar com a outra.
Eu ignorava o cansaço, o cérebro de geléia e a falta de disposição que todo processo ia me custar. Mais importante, eu desconhecia a personalidade e ritmos do meu bebê, que aliás nunca gostou de panqueca.
O bebê que gestamos é também fruto da nossa imaginação. Chamei o José de Ana por 8 semanas, até que meu marido insistiu por uma sexagem fetal. Esperava um bebê parecido comigo, e nasce aquele serzinho de cabelo preto, “tal qual a asa da graúna”. Um bebê que não era muito fã de peito, nem de técnicas de banhos e massagens às quais me dediquei a estudar. Um bebê com múltiplas alergias que não podia comer quase nada do que eu gostava de cozinhar.
Poderia me extender aqui em situações de problemas de saúde, diversidades cromossômicas, desenvolvimento atípico e outras situações que nem de perto visitam nossas projeções, mas que fazem parte também desse universo infinito de possibilidades.
Se tornar mãe é dar um salto em direção ao abismo. Você confia no paraquedas do amor, que te disseram- abriria instantâneo- abreviando a dor dos segundos em queda livre. E é aí que você bate com a cara na parede, ou melhor, no espelho, e se vê uma mãe muito diferente daquela versão fantasiada. Uma mãe que não é necessariamente pior, mas uma mãe real, tentando se agarrar à beira do desconhecido.
Erramos muito, quase sempre querendo acertar, mais amadurecidas erramos também conscientes de que é impossível tirar sempre nota dez. No fim, a meta real é atingir aquela média em que o amor prevalece. É aí na verdade, é finalmente aí, que o pára-quedas se abre. Ufa! Você não vai saber descrever esse momento, mas vai sentir. E quando a hora chegar (e chega), aproveite o vôo!
Se você está com dificuldades no maternar, lembre-se que você não precisa viver isso sozinha. Clique aqui e agende uma consulta e comece a jornada em direção à sua saúde mental e bem-estar. Você merece cuidar de si mesmo.
Conteúdo escrito pela Psiquiatra Dra Caroline Magalhães.