Pai artista

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Você já se imaginou com a tarefa de tirar uma foto por dia do seu filho ou da sua filha, todos os dias, desde o primeiro dia de vida dele(a)? Sem deixar passar um dia até que completasse seus 21 anos de idade? Mesmo naquele dia, quando ainda pequenos, foram dormir na casa de um amiguinho(a), e você se dispôs a “perder” as suas horas se sossego só para não comprometer o seu belo projeto. Ou, quando adolescentes, naquela viagem de férias escolar, cobrar todo o dia dele(a) para não se esquecer de manter ativa a sua tarefa.

Parece meio maluco! Mas um pai fez mais ou menos isso e postou esse video no YouTube com o consentimento do seu filho. Isso virou arte e viralizou! Tem inspirando muitos pais e filhos e gerou uma reportagem na BBC Brasil onde o filho diz “o mundo inteiro deveria ver essa ideia do meu pai”. Ian McLeod, de Harrogate, na Inglaterra, quiz registrar a vida de seu filho se conectando dessa maneira com a sua paternidade. Cory resolveu, há nove anos, continuar a tarefa do pai.

Quanto esforço desse pai. Quanto amor também. E tudo isso começou em uma época sem a praticidade das câmeras dos celulares. Mas na arte, na estética da vida, parece que tudo vale para apresentar nossas obras primas. Todo o esforço faz sentido.

Podemos parar por aqui com essa imagem fantástica das fotos dia a dia de um ser humano, como um vídeo que traz a sensação linda do lugar de cuidado e carinho que a paternidade pode nos apresentar. Mas podemos ir além, e usar dessa experiência artística e afetuosa para refletir sobre os lugares dos pais nos dias de hoje.

Vamos rebobinar e voltar no tempo. Seu filho(a) nasceu. Do que ele precisa diariamente na sua primeira semana de vida, no seu primeiro mês de vida, no seu primeiro ano de vida? E nos próximos anos de vida até os 21 anos? Trocar fraldas, dar banho, ajudar a escovar os dentes, trocar as roupas, dar comida, ajudar no dever de casa, conversar, dar carinho, ser firme quando a situação lhe pede, pagar suas contas, levar ao parque, educar… Ah, mas isso é diferente daquela tarefa artística de tirar uma foto diária. Seria mesmo tão distinto assim? Ou sendo mais direto, como você se relaciona com suas tarefas diárias de papai?

Outro dia escutamos um pai que disse mais ou menos assim: “Quando criança meu filho(a) depende da minha mulher, dos seus cuidados. Mas quando ele crescer, quem vai cuidar dele é o meu bolso”. A fala foi num contexto descontraído, sem a intenção de ofender ou julgar. Sabemos que a seriedade também mora nas pequenas brincadeiras.

Nós não vivemos no ventre as mudanças que muitas mulheres vivenciam. Nem podemos ser confinados ao processo de tirar do nosso peito o alimento para o nosso rebento. Mas isso não significa que mudanças também não nos acometem. Bem menos físicas em alguns casos, mas mexem com a alma da grande maioria dos pais.

Ser pai é misturar tudo isso do filho(a) em si sem perder de vista nossa vida de homem, atividades de trabalhado, lazer e cultura, nossa relação com a companheira, com amigos e com a natureza. Vivemos o conflito diário de estarmos num tempo e espaço onde nossas funções se ampliaram, mesmo sem o nosso consentimento. Não basta mais ser apenas o coletor, caçador, o que trabalha o dia inteiro para garantir o sustento financeiro, o responsável pela diversão dos pequenos e pequenas.

Não meu amigo, você não é obrigado pela sociedade para ser um paizão presente. Você tem apenas a possibilidade de ser um pai diferente! Um pai artista.

Felipe Farinelli – Psicólogo no Sentir Família

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