“Os meus competidores estão lá na academia enquanto eu estou aqui sendo mãe”.
“Eu não consegui licença maternidade do mestrado.”
“Eu tenho medo de não conseguir terminar a faculdade”.
“Será que eu vou conseguir ter uma carreira?”
“Eu ia fazer residência, mas eu engravidei e aí você já viu né?!”
Essas são algumas falas de recém mães que eu acompanho em psicoterapia.
Quando foi que você ouviu um pai dizer frases como essas?
Pais, vocês já questionaram a continuidade da sua carreira por conta da paternidade? Ou enquanto decidia ou não ter filhos, você teve medo de precisar parar de trabalhar por um tempo? Reduzir a carga horária de trabalho? Se preocupar com quem o seu filho ficaria para você trabalhar?
Essa é a realidade de inúmeras mães. Recentemente eu e o João, meu filho de 1 ano e 2 meses, ficamos doentes. Uma gripe longa com muita tosse emendou em uma gastrointerite. ”Será que agora preciso levá-lo ao pediatra? Vamos para o hospital? Não vou mandar ele pra creche. Vou dar conta de trabalhar? Quem vai ficar com ele se eu atender os meus pacientes? Vou ter que cancelar sessão de novo.” Autocobrança? Presente! Pensar que a vida não mudaria drasticamente com a chegada de um bebê.
Os meus pais, foram até 1 ano a minha principal rede de apoio, mas hoje moram fora do país. O meu primeiro e mais persistente pensamento foi: “Não vou dar conta”. Mas Sonja Lubomirsky tem razão quando cita em seu livro “Os mitos da felicidade”: “Derrubar os mitos da felicidade significa que não existe uma fórmula mágica para a felicidade e nenhum caminho definitivo para o sofrimento – que nada na vida produz tanta alegria ou induz tanto ao sofrimento quanto acreditamos.” Eu e o meu marido contamos um com o outro, com a minha irmã, madrinha do João, rede de apoio paga (quando possível), e a compreensão das pessoas com quem trabalhamos – pacientes, chefes e alunos. Quando dizem que leva uma aldeia, não estão exagerando.
A verdade é que a mãe é, muitas vezes, a sua própria aldeia. Desempenhando tantos papéis, ela tem que escolher qual interpretar com maior dedicação naquela semana, naquele dia, momento a momento. Camaleoa no melhor sentido possível. Se eu estou embalando o meu filho doente, eu estou deixando de atender os meus pacientes. Se estou atendendo até tarde, como faço três dias na semana, eu não estou colocando o João para dormir.
Essa semana eu escolhi deixar de participar de eventos importantes de trabalho e oportunidades de aprendizado. Eu atrasei a entrega de textos e adiei inícios (de novo). Essa semana eu troquei muitas fraldas, ninei, brinquei, dei banho e mamadeira. Enchi o potinho do ninho materno!
Flexibilidade foi e tem sido a palavra mais potente nesse percurso. Darwin já dizia! “Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” Parece que ele estava anos a frente nas pesquisas da psicologia positiva.
Gestar e maternar não deveria ser uma ameaça à continuidade dos outros papéis de uma mulher. A sociedade precisa mudar, não somos nós que estamos falhando. A vida é fluxo, estamos aqui e ali e as vezes em lugar nenhum.
Mães não produzem pra sociedade. Não que produção seja tudo isso que dizem, mas só é possível florecer com terra fértil. Mães são terra fértil. Mães cuidam do futuro. Isso é o auge da produtividade.
– Mãe cansada, feliz, “triste, louca ou má”, também conhecida como Mariana Nicolau.