Ah, meu ANJO, a dor que vivi na sua chegada, que me levou para o lugar mais profundo de mim mesma, foi a mesma que me trouxe até aqui. Quando te planejei, fiz tudo como mandava o figurino: exames, ácido fólico, nutrição, atividade física e, claro, interrompi o antidepressivo. Eu já estava bem estável há muito tempo e me senti mais segura assim. Só que no meio da sua gravidez meu humor piorou. Eu não queria usar remédio estando grávida, então diminuí o ritmo de trabalho e aumentei as atividades físicas. Que bom que minha profissão me permitiu agir assim, sabemos que é um privilégio.
Seu parto foi marcado para um sábado, véspera de carnaval. Você já estava com quase 41 semanas, era muito grandão, meu colo estava grosso e fechado, e já havíamos descolado a bolsa algumas vezes na última semana. A frustração com o parto e as dificuldades na amamentação me levaram para o lugar de maior fragilidade psíquica que já visitei: a piora da depressão (fato que acontece com até uma em cada cinco mães).
Eu já tinha vivido outros episódios de depressão, talvez até mais intensos. Mas o fato de não ter você na equação fez muita diferença no meu sofrimento. A depressão após o nascimento de um filho é um lugar de silêncio e invisibilidade, de difícil acesso para quem nunca o visitou, afinal parece pouco compreensível que uma mãe sofra diante de um filho desejado e saudável. E foi assim que me calaram. Receitaram Equilid, que usei por sete meses, medicamento que me deixou mais calma e me fez parar de chorar. Mas eu não via sentido naquilo. Onde estava o prazer da maternidade?
Há quase quatro anos me dedico a estudar sobre o tema e a cuidar de mulheres que visitam o lugar do adoecimento psíquico na maternidade. Que nosso sofrimento nos leve para um lugar de melhor assistência para muitas mulheres! Obrigada por tudo, como é bom encontrar luz após a escuridão.