Necessidade que começa ainda na gestação.
A fisiologia do gestar pede tempos de pausa e descanso.
É no silêncio e no vazio que seu psiquismo vai abrindo espaço para se acomodar à chegada do bebê.
Crescemos ouvindo “gravidez não é doença” e, quando vai tudo bem, queremos nos mostrar que somos tão capazes quanto antes.
Em todos os sentidos: estarmos ativas, nos alimentar bem, e, claro, “corresponder às expectativas no trabalho”, manter a produtividade, não cometer erros, não nos ausentar dos compromissos, mesmo em caso de mal-estar…
O trabalho que amamos e sobre o qual construímos boa parte de nossa identidade, até então… É o trabalho que rouba o aconchego psíquico com nosso filho.
Curiosamente, na prática clínica, mulheres que passam a gravidez “desenfreadas”, super produtivas, “como se nada de diferente estivesse acontecendo”, são as que tendem a ter maior estranhamento e dificuldade de conexão e adaptação após o nascimento do bebê.
Elas podem ocupar o papel de mãe com um sentido de trabalho, digamos assim, mais distanciado.
Não alargaram o tempo de estarem apenas entregues, sentindo, interagindo e simbolizando o filho – o ideal.
Já as que apresentam grande desconforto “enquanto a barriga prepara o menino/a/e”, que forçosamente são obrigadas a parar, fazer um repouso relativo, ou absoluto, estarem em silêncio, perceberem seus corpos, ou até deprimirem, tendem a reconhecer o bebê “como seu” quando ele nasce.
Costuma, inclusive, haver uma melhora do estado psíquico da mãe. O bebê vivo a alivia, ainda que lhe sugue. A gravidez acabou e houve um sentido para tudo.
Há percepções de mais movimento, nova vida e com maior liberdade, em relação às restrições da gestação.
Ela ocupa seu papel de mãe com o sentido maior de cuidar do “seu filho”.
Já quando a gravidez acaba de forma abrupta, inesperada, com um aborto, prematura, com o encontro com a morte, ou complicações que afastam a mãe do bebê, o sopetão e o estranhamento tendem a ser maiores, usualmente com altos níveis de ansiedade.
Vocês, mamães, conseguem perceber este tipo de correlação subjetiva entre o tempo da gravidez e o alargamento do tempo de descanso?
É fisiológico e saudável.
Diminui a pressão interna, a tensão por prazos ou metas irrealistas, melhora a conexão da mãe com seu bebê, protege a saúde mental de ambos e a formação de uma díade saudável.
Trata-se de viver o processo com CONSCIÊNCIA. Adaptar tudo que for possível para ir alargando seu tempo com o bebê – ainda que dentro de sua barriga. Medite. Dance devagar. Sinta os processos internos. Os do corpo e os da Alma.
O alargamento do tempo do pai, também é importante de ser considerado, para uma tríade saudável no nascimento da nova família.