Escutei que a maternidade é um luto. E de fato todos os dias lamento a morte de uma versão idealizada da mãe que achei que eu seria. Da mulher que eu poderia ter sido caso não tivesse me tornado da mãe e da autonomia que vi descer pelo ralo depois que minha vida passou a girar em torno de outro eixo.
Não estou dizendo que o significado da vida não tenha se expandido, e que a felicidade suprema não me visite todos os dias. Mas o luto existe, ele está lá, e talvez seja ele o responsável pela tal da ambivalência inerente à maternidade. Essa coisa confusa que nos faz querer estar sozinhas e grudadas com a cria ao mesmo tempo. Dizem que melhora, um dia. Algumas vem do futuro contar.
De fato, terminado o puerpério, tenho mais clareza da minha individualidade e dos meus próprios desejos. No entanto, depois que meu coração virou dois, escolher por um só deles é perder sempre. Vivo acertando o ponteiro da balança, equilibrando os ritmos e até isso me consome enorme energia. Vez ou outra chuto o balde e a balança juntos, e só alimento a fome que dói mais em meu coração. Aceito.
A maternidade é mesmo esse desmoronamento que nos assola e ao mesmo tempo encanta. Nada menos que “ser o osso onde o filho afia os dentes”, a areia do deserto que sem resistência é levada pelo vento e depositada em dunas monumentais. Inéditas.
Assim é a arte de criar um ser humano. Uma entrega que arrebata, mas edifica e constrói novas pessoas. Mãe, filho, e quem mais possa integrar esse estado de comunhão chamado família, a se reeditar sempre. E a renovação é tudo que o universo proclama. Uma honra servir com tanto propósito a esse misterioso ciclo da vida.
Se você está com dificuldades no maternar, lembre-se que você não precisa viver isso sozinha. Clique aqui e agende uma consulta e comece a jornada em direção à sua saúde mental e bem-estar. Você merece cuidar de si mesmo.
Conteúdo escrito pela Psiquiatra Dra Caroline Magalhães.