Saudade de ter sido território, corpo, alimento, temperatura, luz e sombra de um filhote humano. Casar e ter filhos não apareciam no meu imaginário nem infantil, nem juvenil. Será? Sempre afirmei isso.
A verdade é que morria de medo de ser oprimida por alguma experiência feminina. Lembro de ver minha mãe exausta com três filhos e sendo professora de escola estadual 40h semanais. Queria ser livre e maternidade não combina com desejos de identidade. Era o que eu via.
Quero lembrar que o patriarcado nos oprime, abusa, cansa e enoja desde priscas eras, mas trabalhar até madrugada, mesmo que fosse pra enriquecer outra pessoa que não eu mesma, não me parecia tão estranho quanto tornar-se “escrava da teta”.
Um pouco antes de adentrar a psique feminina e entender que um dia eu não quis ser mais “mulher”. Eu não queria ser um certo tipo fraco e submetido ao sistema. Catei as máscaras que pude e virei homem-baunilha. Quis ganhar todas as medalhas da olimpíada disponível no aquário patriarcal. Cheguei nesse lugar dentro do meu imaginário, provinciana gaúcha na pujante São Paulo. Consegui, e a fase da ilusão do sucesso foi atravessada com louvor na minha jornada da heroína.
Pari Luna, puerpério, entrega, habitei meu corpo de mulher, ressignifiquei experiências de infância, me comprometi com o prazer de gozar, buscar êxtase sempre. Parir e amamentar e maternar na estrada Apollo também honrou minha fase arquétipo deusa mãe. Que privilégio é ter feito terapia antes e ter vivido essa fase sem medo da intensidade e transformação. Com teta pra fora, barco no mar e vento na cara, rumo a uma ilha deserta no meio da baía de Paraty, foi assim nossa chegada no Brasil na nova composição. Apollo (seis meses) nadou nessas primeiras águas e eu me batizei rainha de mim.
Fazer gente impacta o amanhã. Afeta dar afeto em livre demanda. Uma nova matrix feminina é possível. Vamos inventar! Temos um útero carregado de estrelas, o primeiro mar no qual todos nadam nessa vida. Ele existe para lembrar que somos criadoras, curativas, oráculo, magia e fonte de renovação. Feminino potente, prometo jamais me separar de ti.
E tu, quando te separou?
Vamos falar sobre isso?
Essa é crônica da Eliana Rigol, convidada especial de Daniela Bittar para o evento MULHER, MÃE E LIBERDADE, que acontecerá no dia 11/05, às 17h, no Teatro de Bolso no SESI Minas, Belo Horizonte/MG.
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