Tem sido frequente quando veem o meu filho indo ou voltando da escola, dizerem: “nossa já?”, “tadinho”…
A mãe que precisa ou deseja voltar ao trabalho precisa fazer a escolha de deixar a criança com um cuidador (seja algum familiar ou babá) ou na escola.
Entendo que há uma série de problemas na educação infantil e que o bebê sai de um lugar de exclusividade de atenção para ser cuidado com atenção dividida.
Mas também entendo que o desrespeito não acontece só nas escolas. Já presenciei inúmeros desrespeitos e violências com bebês vindos de cuidadores familiares e de babás.
Não podemos generalizar. Tudo depende de quem é o cuidador e de qual é a escola em questão. E é nessa balança que eu acredito que cada família tem que colocar sua decisão.
Claro que eu sei que é maravilhoso a criança ficar em casa o tempo que puder. Sei que a criança pequena não precisa de escola, somos nós pais que precisamos.
Também sei que frequência à creche é considerado na literatura científica um grande fator protetor do desenvolvimento infantil, especialmente quando estamos falando de vivências de vulnerabilidade socioeconômico.
Este não é o meu caso, mas estou dizendo isso aqui pra reafirmar: num país tão plural, de famílias tão plurais, em pleno 2023 vamos mesmo ficar questionando as escolhas de cada um?
Eu tenho o privilégio de poder escolher uma boa escola. Com um método que eu admiro, que eu considero respeitoso, com coisas interessantes pro meu bebê. Ali ele tem mais acesso e oportunidades de brincar e explorar o mundo do que se ficasse na minha casa com algum outro cuidador. Na minha balança, nas minhas necessidades, essa decisão foi a que fez mais sentido.
Porque “tadinho”? Será mesmo que eu não me importaria com quem estou deixando meu filho!?
Sabe, meu marido nunca ouviu nada sobre essa escolha. Ele não tem que lidar com essas falas, nem com a carga de culpa. Porque a ele ninguém questiona, ninguém culpa. Dele ninguém tira conclusões antecipadas. Mas a decisão foi nossa. Em conjunto.
Ou seja, esse julgamento além de superficial é machista e misógino. A quem serve culpar a mãe por contar com o apoio da escola?
Mariana Lacerda – Doutora em Saúde da Criança e Educadora Parental